sábado, 25 de maio de 2013

O Abismo Prateado


A grande inspiração do diretor Karim Aïnouz para película O Abismo Prateado se deu pela letra  de "Olhos nos olhos", de Chico Buarque. O teor da letra, de eu lírico feminino, é extremamente tocante porque evoca várias facetas existentes do que parte de um princípio resoluto de transformações. Expõe o antes e o depois, a causa e a consequência, o ontem e o agora, o tudo e o nada, partindo de um rompimento ainda que inesperado, porém superável. O filme conta sobre a história de Julieta, uma dentista casada há 14 anos com Djalma, com quem tem um filho e vive um cotidiano em equilíbrio. Numa viagem a trabalho, o marido se despede através de um recado no celular, explicando que não mais voltaria por não haver mais amor. A partir de então, Julieta parece viver um dia insólito e ao mesmo tempo em estagnado no turbilhão de emoções que tenta controlar em vão. Do instante em que tenta entender o que se passa, ela não acredita no que está por vir, busca o reencontro, porém se depara com uma série de impedimentos. E então resta a ela andar a esmo, numa exposição quadro a quadro de uma mulher resignada, abandonada, incapaz de medir os próximos passos, em um inevitável conflito com um colapso de sensações. Ouso caracterizar o filme como silencioso, com poucos diálogos e muita ênfase em cada milimétrico detalhe em suas personagens. O olhar, o respirar, o andar pelas ruas do Rio, a espera no sinal, o reflexo no espelho, as cicatrizes de uma ferida que não reluz no espelho e sim na alma são quadros que se movem em câmera lenta. Interessante o esforço para entender o porquê disso. Por que as palavras determinam ou delimitam tanto uma personagem? Em boa parte do filme, o discurso não se faz por meio de palavras para que nós possamos experimentar essa tempestade de percepções de cada ato exposto. Essa é a ideia. Preencher esses seres com monólogos ou diálogos limitaria em muito consentir diretamente o que passam. O expectador talvez não perderia tempo algum imaginando como Violeta se sente em determinado momento do filme e é essa a maior riqueza a qual pude apreender nessa obra. Às vezes, as palavras são plenamente desnecessárias, desprezíveis, enfim, dispensáveis. O momento em que a música de Chico é cantada é um marco, pois sopra ventos de bonança e prova que muito se pode ir além do que se pensa em chegar. Vale a pena conferir!

Olhos nos olhos

Quando você me deixou, meu bem,
Me disse pra ser feliz e passar bem.
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci,
Mas depois, como era de costume, obedeci.
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer.
Olhos nos olhos,
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
E que venho até remoçando,
Me pego cantando, sem mais, nem por quê.
Tantas águas rolaram,
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você.
Quando talvez precisar de mim,
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim.
Olhos nos olhos,
Quero ver o que você diz.
Quero ver como suporta me ver tão feliz.














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