terça-feira, 30 de outubro de 2012

Intocáveis - Intouchables

Intocáveis (Intouchables), de 2011, obteve a extasiante segunda maior bilheteria da história do cinema francês, em torno de 20 milhões. Dirigido pelos diretores Olivier Nakache e Éric Toledano, o filme foi inspiração de um fato real, narrado em O Segundo Suspiro (Le second Souffle), publicado em 2001. Um livro de memórias de Philippe Pozzo Di Borgo, ex-diretor da empresa de champanhe Pommery, herdeiro de uma família aristocrática francesa, após o acidente de parapente que o deixou tetraplégico e a relação com Abdel Sellou, um ex-presidiário argelino que se tornou seu acompanhante, desde então.
Nessa obra cinematográfica, toca-se em seres tanto extremos quanto enriquecedores. Mas a sensibilidade aqui se torna um instrumento de partida e não de chegada. Philippe, milionário e colecionador de arte (François Cluzer), engaja-se na busca de um empregado que o auxiliasse nos afazeres diários, já que se encontra imobilizado do pescoço aos pés e tarefas simples como atender ao telefone o torna extremamente dependente de outrem. Encontra em Driss (Omar Sy), um forte candidato e estipula o prazo de um mês de experiência, embora afirmando que o mesmo não tem plenas condições de perdurar nem por duas longas semanas. A razão da escolha pode ser um conjunto de atributos, um deles seria o próprio desinteresse pela vaga. Driss, recém-saído da prisão, só precisa de uma assinatura que comprove a ida à entrevista de emprego para que assim receba o auxílio financeiro cedido pelo Estado a indivíduos na mesma situação. Driss representa aqueles que vêm das banlieues, os subúrbios racialmente abstraídos de grandes cidades, como Paris. A magistral atuação desses dois atores, além de ter rendido a Sy um prêmio César, primeiro ator negro a conseguir tal feito, também põe em voga a tensão racial vivida na Europa, onde há segregação social entre brancos e descendentes de imigrantes procedentes de ex-colônias. A previsível ausência de piedade é o que estreita essa relação, onde Driss sempre esquece e persiste em entregar o telefone celular a Philippe quando toca. Um ato simples que diz tudo. Há incompletude nessas vidas e Philippe tenta a contemplar através da arte, da boa música, clássica, diga-se de passagem, e não hesita em apresentar esse olhar ao companheiro. Numa exposição de arte, Philippe fica pouco mais de duas horas contemplando uma obra que figurava o respingo de sangue num background branco. Driss não entende o porquê daquilo e ainda assim quando se paga mais de quarenta mil euros para exibir a obra em casa. Há constante troca entre esses dois seres únicos os quais convivem em plena harmonia, ao ar livre e até em saltos de parapente. Naquele momento, os extremos não enxergavam distinção social, cultural e muito menos financeira. A completude nessa relação belíssima se dá pelo valor e respeito ao outro, uma amizade que nada tem de improvável e sim do que é simples e verdadeiro. Seguem o trailler e a música Feeling Good, da grande Nina Simone.









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