Intocáveis(Intouchables),
de 2011, obteve a extasiante segunda maior bilheteria da história do cinema
francês, em torno de 20 milhões. Dirigido pelos diretores Olivier Nakache e
Éric Toledano, o filme foi inspiração de um fato real, narrado emO Segundo Suspiro(Le second Souffle), publicado
em 2001. Um livro de memórias de Philippe Pozzo Di Borgo, ex-diretor da empresa
de champanhe Pommery, herdeiro de uma família aristocrática francesa, após o acidente de parapente que o deixou
tetraplégico e a relação com Abdel Sellou, um ex-presidiário argelino que se
tornou seu acompanhante, desde então.
Nessa
obra cinematográfica, toca-se em seres tanto extremos quanto enriquecedores.
Mas a sensibilidade aqui se torna um instrumento de partida e não de chegada.
Philippe, milionário e colecionador de arte (François Cluzer), engaja-se na
busca de um empregado que o auxiliasse nos afazeres diários, já que se encontra
imobilizado do pescoço aos pés e tarefas simples como atender ao telefone o
torna extremamente dependente de outrem. Encontra em Driss (Omar Sy), um forte
candidato e estipula o prazo de um mês de experiência, embora afirmando que o
mesmo não tem plenas condições de perdurar nem por duas longas semanas. A razão
da escolha pode ser um conjunto de atributos, um deles seria o próprio
desinteresse pela vaga. Driss, recém-saído da prisão, só precisa de uma
assinatura que comprove a ida à entrevista de emprego para que assim receba o
auxílio financeiro cedido pelo Estado a indivíduos na mesma situação. Driss
representa aqueles que vêm das banlieues,
os subúrbios racialmente abstraídos de grandes cidades, como Paris. A magistral
atuação desses dois atores, além de ter rendido a Sy um prêmio César, primeiro
ator negro a conseguir tal feito, também põe em voga a tensão racial vivida na Europa,
onde há segregação social entre brancos e descendentes de imigrantes procedentes
de ex-colônias. A previsível ausência de piedade é o que estreita essa relação,
onde Driss sempre esquece e persiste em entregar o telefone celular a Philippe
quando toca. Um ato simples que diz tudo. Há incompletude nessas vidas e
Philippe tenta a contemplar através da arte, da boa música, clássica, diga-se
de passagem, e não hesita em apresentar esse olhar ao companheiro. Numa
exposição de arte, Philippe fica pouco mais de duas horas contemplando uma obra
que figurava o respingo de sangue num background branco. Driss não entende o
porquê daquilo e ainda assim quando se paga mais de quarenta mil euros para
exibir a obra em casa. Há constante troca entre esses dois seres únicos os
quais convivem em plena harmonia, ao ar livre e até em saltos de parapente.
Naquele momento, os extremos não enxergavam distinção social, cultural e muito
menos financeira. A completude nessa relação belíssima se dá pelo valor e
respeito ao outro, uma amizade que nada tem de improvável e sim do que é
simples e verdadeiro. Seguem o trailler e a música Feeling Good, da grande Nina Simone.