domingo, 8 de dezembro de 2013

Poulet aux prunes - Frango com Ameixas


Com um título que mais evoca uma viagem sinestésica, Frango com ameixas, Poulet aux prunes (2011), representa uma jornada que vai muito além dos limites culinários, se é que existem.

A história se passa no fim dos anos 50, em Teerã. O violinista Nasser-Ali, majestosamente protagonizado por Mathieu Amalric, um homem de tanto austero, porém deprimido e inconsequente, está determinado a cometer suicídio após uma árdua discussão com sua esposa que acaba por destruir seu violino. Desde então, sucedem-se os dias que antecederão esse triste fim, com flashbacks e flashforwards do que uma vez foi e do que ainda será sua vida. A profundidade de sua escolha é justificada pelo tom melancólico com que  sua história é rememorada, com um roteiro marcado por uma viagem capitular e fragmentada em que as lacunas do tempo nos fazem compreender o motivo real da angústia de Nasser-Ali. 

Enquanto espera pela visita do anjo da morte, Azrael, o violinista se perde em sonhos e delírios diante de uma decisão tão dramática. A rejeitada esposa, Faranguisse, endurecida pela rotina de viver à sombra do amor perdido de Ali, vê, arrependida, o amado definhar com o passar dos dias. Ela ainda nutre a esperança de que ele reverta a tal decisão fazendo-o degustar seu prato favorito, frango com ameixas. Embora o tema tão dramático não atraia tanta atenção à princípio, o que o torna de fato interessante é a forma com que os caminhos são abordados. Humor, fábula, romance ocultam esse drama fatalista através de um trajeto visual que envolve cenas, sombras e contrastes que em muito se assemelham aos quadrinhos. Muito menos provável que o início e o fim dessa história, é a grandiosa lacuna que há entre eles.

Para Nasser-Ali, a arte é o que o define, é uma escolha. Num de seus flashes, o passado amargo relembra quando, ao pedir em casamento a amada Irâne, se sentiu desfavorecido diante de sua realidade. O pai de Irâne, um homem de negócios, foi resoluto quanto à insegurança financeira do violinista e o futuro de sua filha, não pensou duas vezes em proibir tal proposta, ordenando-o a desaparecer da vida de Irâne. Nesse ponto, Nasser-Ali tenta buscar consolo em seu mestre de violino que se utiliza de uma das metáforas mais bem empregadas na história: "A vida é um sopro. E é nesse suspiro que você deve se agarrar!".

Diante de valores tão falhos nos dias de hoje, é esse sopro que nos ronda a todo instante e muitos mal se dão conta de que ele existe. Talvez, Nasser-Ali tenha de fato conquistado seu suspiro com a arte, com a música ou em parte com Irâne. Mas quanto dura um suspiro? Até que ponto ele se sustenta? Façamos de nossos dias uma busca que não clame por brevidade, ainda que depois de tantas quedas intempestivas. Que a renúncia não seja uma resposta à vida! 
Como o cinema francês é atual e inspirador!




A seguir a trilha sonora assinada por Olivier Bernet:



1 - Main Title
2 - Haushang
3 - Nasser's day
4 - Suicides
5 - My Little House
6 - Lili
7 - Abdi
8 - Sophia Loren
9 - Faranguise
10 - Nasser's Youth
11 - The Secret
12 - Signs
13- Parvine
14 - Prayer
15 - Meeting Azrael
16 - Mister Ashour
17 - Lovers 
18 - The Rain
19 - Final 
20 - Irane


























domingo, 11 de agosto de 2013

50 First Dates - Como se fosse a primeira vez



É unânime o fato de que conquistar alguém uma única vez que seja não é tarefa fácil. Agora quanto desafiador seria ter de enfrentar essa situação e reconquistar a cada novo dia, de diversas maneiras, lutando contra todas as adversidades e persistindo apesar dos pesares? Sim, essa foi a escolha de Henry Roth, interpretado por Adam Sandler, um biólogo marinho que trabalha em um parque aquático no Havaí, que percebeu que a sua vida poderia sim mudar e não se limitar à convivência, ainda que bem saudável, entre leões marinhos, morsas e golfinhos. A escolhida é Lucy Whitman, Drew Berrymore, que sofre de uma síndrome de curta memória após um acidente de carro. Lucy acorda todos os dias sem lembrar o que houve no dia anterior, o que a condena a reviver o mesmo triste dia, inúmeras vezes. Sua memória permanente só funciona até o dia em que houve o acidente. Agora fica fácil entender porque, para Henry, fazê-la se apaixonar a cada despertar, aceitar o triste fato de sua condição e limitação é algo tão difícil. Algumas tentativas de amenizar são fazê-la elaborar a descrição de cada dia vivido em um diário e Henry cria um vídeo que exibe grandes fatos acontecidos desde que Lucy teve o problema com a memória. Aí se incluem notícias políticas, feitos esportivos e principalmente, a música que permanece diante das lembranças. Um caso em específico para The Beach Boys, “Wouldn’t it be nice”, que se mostra a verdadeira trilha sonora do casal. O que move a busca e persistência de Henry é a esperança de que, com toda a dedicação e presença na vida de Lucy, um dia ela se lembre de um detalhe mínimo sequer, revertendo de alguma forma esse seu distúrbio. É um filme que emociona de muitas formas, é divertido, interessante, mas principalmente, nos faz refletir até que ponto se deve lutar por alguém. O trabalho incessante de Henry é admirável porque é uma verdadeira raridade nos dias de hoje. A trilha sonora é um detalhe à parte, excelente. Segue a música “Forgetful Lucy”.

"How about another first kiss?"






Track Listing

1.  "Hold Me Now" - Wayne Wonder   
2.  "Love Song" - 311  
3.  "Lips Like Sugar" - Seal (featuring Mikey Dread)      
4.  "Your Love (L.O.V.E. Reggae Mix)" - Wyclef Jean (featuring Eve)      
5.  "Drive" - Ziggy Marley       
6.  "True" - Will.I.Am and Fergie        
7.  "Slave To Love" - Elan Atias         
8.  "Every Breath You Take" - UB40   
9.  "Ghost In You" - Mark McGrath    
10.  "Friday, I'm In Love" - Dryden Mitchell        
11.  "Breakfast in Bed" - Nicole Kea         
12.  "I Melt With You" - Jason Mraz        
13.  "Forgetful Lucy" - Adam Sandler       

Link para download:




"Forgetful Lucy" - Adam Sandler




"Wouldn't it be nice" - The Beach Boys


sábado, 25 de maio de 2013

O Abismo Prateado


A grande inspiração do diretor Karim Aïnouz para película O Abismo Prateado se deu pela letra  de "Olhos nos olhos", de Chico Buarque. O teor da letra, de eu lírico feminino, é extremamente tocante porque evoca várias facetas existentes do que parte de um princípio resoluto de transformações. Expõe o antes e o depois, a causa e a consequência, o ontem e o agora, o tudo e o nada, partindo de um rompimento ainda que inesperado, porém superável. O filme conta sobre a história de Julieta, uma dentista casada há 14 anos com Djalma, com quem tem um filho e vive um cotidiano em equilíbrio. Numa viagem a trabalho, o marido se despede através de um recado no celular, explicando que não mais voltaria por não haver mais amor. A partir de então, Julieta parece viver um dia insólito e ao mesmo tempo em estagnado no turbilhão de emoções que tenta controlar em vão. Do instante em que tenta entender o que se passa, ela não acredita no que está por vir, busca o reencontro, porém se depara com uma série de impedimentos. E então resta a ela andar a esmo, numa exposição quadro a quadro de uma mulher resignada, abandonada, incapaz de medir os próximos passos, em um inevitável conflito com um colapso de sensações. Ouso caracterizar o filme como silencioso, com poucos diálogos e muita ênfase em cada milimétrico detalhe em suas personagens. O olhar, o respirar, o andar pelas ruas do Rio, a espera no sinal, o reflexo no espelho, as cicatrizes de uma ferida que não reluz no espelho e sim na alma são quadros que se movem em câmera lenta. Interessante o esforço para entender o porquê disso. Por que as palavras determinam ou delimitam tanto uma personagem? Em boa parte do filme, o discurso não se faz por meio de palavras para que nós possamos experimentar essa tempestade de percepções de cada ato exposto. Essa é a ideia. Preencher esses seres com monólogos ou diálogos limitaria em muito consentir diretamente o que passam. O expectador talvez não perderia tempo algum imaginando como Violeta se sente em determinado momento do filme e é essa a maior riqueza a qual pude apreender nessa obra. Às vezes, as palavras são plenamente desnecessárias, desprezíveis, enfim, dispensáveis. O momento em que a música de Chico é cantada é um marco, pois sopra ventos de bonança e prova que muito se pode ir além do que se pensa em chegar. Vale a pena conferir!

Olhos nos olhos

Quando você me deixou, meu bem,
Me disse pra ser feliz e passar bem.
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci,
Mas depois, como era de costume, obedeci.
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer.
Olhos nos olhos,
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
E que venho até remoçando,
Me pego cantando, sem mais, nem por quê.
Tantas águas rolaram,
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você.
Quando talvez precisar de mim,
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim.
Olhos nos olhos,
Quero ver o que você diz.
Quero ver como suporta me ver tão feliz.














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