Assisti recentemente ao filme
francês do diretor Michel Leclerc e acredito que as vidas de Bahia Benmahmoud,
filha de um argelino e de uma ex-hippie, e Arthur Martin, um discretíssimo
veterinário, filho de uma órfã e de um engenheiro nuclear, convergem-se ainda
mais quando tantas divergências vêm à tona. "Os nomes do Amor" é uma
clara apologia à identidade, à memória, à política, ainda que esquerdista, ao
altruísmo direcionado aos imigrantes e aos sem pátria, à excentricidade de
ambos que se transforma em generosidade. Bahia é um típico ser que mistura a
simpatia esquerdista personificada e o espírito libertário dos ano 60. Acredita
que “todos os caras da direita são fascistas” e encara uma distinta tática para
convertê-los: leva-os para a cama. E ainda conserva, como um verdadeiro troféu,
uma espécie de Scrapbook dos ex-conservadores que viraram esquerdistas,
resultados de suas investidas sexuais. Ela não hesita em se casar com um quase
desconhecido imigrante para que ele adquira cidadania francesa. Bahia acaba
trajando o estereótipo “maluquinha” quando interrompe uma entrevista na rádio
francesa em que Arthur Martin tenta persuadir os ouvintes sobre os riscos e
prevenções a serem tomados sobre a gripe aviária. Esse encontro gera uma série
de sensações e desencontros, mas todos com um caminho distinto e
reto, a busca pela identidade, pelo amor. Durante toda a trama, os personagens
Bahia e Arthur são requisitados por seus ancestrais, no caso de Arthur, ele conversa
com ele mesmo, aos 16 anos, em situações que requerem reflexão ou nas quais ele
não tem certeza de como proceder, numa espécie de consulta. Um dos momentos
mais tensos é quando a mãe de Arthur perde seus documentos e ela, criada num
orfanato traumatizada pela perda de seus pais tão imatura, não consegue provar
sua cidadania francesa. As verdadeiras origens de sua família recaem da esfera
do esquecimento e ganham vida. É um filme incrível que descreve as relações
tempestuosas que a vida nos presenteia e das quais não nos convêm fugir com um
toque de humor e contemporaneidade. Gostei!