quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A Pele que Habito


Almodóvar presenteia-nos com mais uma película engrandecida de mistérios, através de um roteiro surpreendente e expansivo, cuja inspiração, dentre outras, veio de Mygale, livro de Thierry Jonquet, de 1984. O livro descreve uma história de vingança doentia em três pilares narrativos principais: o cirurgião plástico renomado, Richard Lafargue, mantém uma relação bizarra e um tanto estranha com sua esposa, pois a tranca em seu quarto todas as noites depois de lhe administrar uma dose de ópio; Vincent Moreau é um criminoso de quinta que tenta se recuperar de um tiro que levou na perna em virtude de um assalto mal sucedido a um banco que foi finalizado com o assassinato de um policial; a terceira personagem é raptada e presa a uma parede com correntes. São imagens e sequências que realmente se interligam de alguma forma com A Pele que Habito, muito embora o sentido ou a lógica fujam à princípio, mas há um fio que entrelaça suas meras histórias. 
Após um hiato de 22 longos anos, desde os filmes A Lei do Desejo (1987) e Ata-Me (1990), os quais foram cruciais para sua projeção internacional, Antonio Banderas retorna à tela colorida e sinuosa de Almodóvar, em belíssima atuação, diga-se de passagem. Banderas interpreta Robert Ledgard, um cirurgião plástico que desenvolve um tipo de pele revolucionária, resistente ao fogo e à malária, após a morte de sua esposa que sofreu um grave acidente, permanecendo por alguns dias ainda viva, porém sem forças suficientes para sobreviver às sequelas das queimaduras que a fincaram por toda pele. A busca de Robert se torna doentia e insaciável, não é mera coincidência fazer a justa alusão ao personagem Dr. Frankenstein, de Mary Shelley, já que se observa um ser que tenta transcender limites não só por ambição, mas por superação, embora seja por um culpa da qual jamais terá a chance de se livrar. Há ainda outros elementos drásticos e bizarros que estreitam a relação dramática na trama, como o estupro da filha de Robert (Blanca Suaárez), que vivia enclausurada em casa, recebendo cuidados psicológicos e na primeira chance de se socializar, sofre o devido abuso. Tal acontecimento propulsiona um mergulho ainda mais intenso na confusão emocional do protagonista, inicia-se daí mais uma busca, só que vingativamente implacável e concretizada com atitudes que beiram a insanidade e por que não a insensatez? Outra personagem cuja identidade e aparição se tornam mais que misteriosas, é Vera (Elena Anaya), uma cobaia prisioneira do cirurgião num luxuoso bunker, em que é vistoriada 24 horas por dia. A atriz Elena Anaya já atuou antes, no belíssimo Fale com ela, de Almodóvar.
Mais detalhes serão inúteis perante à grande obra cinematográfica apresentada, simplesmente majestosa, peculiar e surpreendente! Vale a pena conferir também a trilha sonora incrível. O momento auge é quando há a interpretação de Buika, da música "Por el amor de amar", perfeita! Abaixo os álbuns 1 e 2, trilha sonora completa do filme com os links pra fazer o download!

“Quiero la luz del sol
También quiero el azul del cielo en el mar
Quiero mas sin fin
para no tener nunca que terminar
como la flor feliz de ver como nace la flor
Hoy mi sombra se deshace como el viento”



Tracklist

01-Los vestidos desgarrados (2:34)

02-Tema de vera (2:26)

03-El cigarral (3:46)

04-La convivencia (1:22)

05-El asalto del hombre tigre (7:36)

06-Between the bars (3:05)

07-Shades of marble (5:52)

08-Por el amor de Amar (2:40)

09-Una patada en los huevos (1:47)

10-Prometeo encadenado (5:01)

11-La pared transparente (2:21)

12-En el calor de la noche (5:59)

13-Libertad vigilada (2:36)

14-Pequena flor (3:06)

15-Se me hizo fácil (4:05)

16-Duelo final (8:00)

17-Tributo a cormack MC Carthy (1:33)

18-Rojo y negro (4:04)

19-La pared-diario (1:20)

20-Créditos - La identidad inaccesible (3:57)


Download:










 

2 comentários:

  1. Oi Mirella.

    Como frisei na minha crítico sou fã de muitos trabalhos de Almodóvar, o que me familiariza ao seu estilo e técnicas narrativas. No caso, você acabou confundindo o material original com o visto nas telas, um pecadilho que não deve ser cometido porque as obras devem funcionar independentemente.

    Assim, se Ledgard aprisionava e era cruel com sua esposa, isto é (mal) contado na breve história em frente a uma fogueira e esses flashbacks acabam denunciando a incapacidade do diretor de encontrar outro meio melhor de contar sua história. O que acaba culminando na estranha linha de tempo em que revela muito cedo a identidade de um personagem destruindo o poder que ele poderia provocar com esta revelação no clímax.

    Claro que eu gosto de alguns aspectos plásticos e a atuação de Antonio Banderas é de crucial importância porque equilibra bem a loucura do seu Victor Frankenstein com a sensatez e genialidade esperados de um grande e rico cirurgião plástico. Eventualmente, outro momento de fraqueza narrativa é quando a obsessão de Ledgard transformar-se em desejo sexual por Vera (apenas vê-la ser estuprada foi o suficiente?), e não me pareceu bastante fluido e eu diria mais, foi desastrado e incompetente, em transformar o cirurgião de captor em vítima.

    No entanto, a história (e não o filme, ou seja, estou pensando além, refletindo e futricando o que poderia ser) é de enorme genialidade, especialmente no cunho de vingança, porém o visto na tela sequer se aproxima do melhor filme deste gênero dos últimos anos "O Segredo de seus Olhos", exemplar que "A Pele que Habito" sequer toca na epiderme!

    Mas, continuo esperando o retorno a boa forma de Almodóvar, mesmo que os últimos dois esforços tenham sido, na minha opinião, péssimos.

    No mais, estou seguindo já :)

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  2. Obrigada por sua contribuição, Márcio! Muito bom ter opiniões e visões diferenciadas pra poder entender cada vez um pouquinho mais sobre o filme! Você sabe que sou fã inveterada mesmo, talvez isso venha a prejudicar de alguma forma a criticidade quanto aos filmes de Almodóvar. Além do que não considero minhas resenhas como críticas, já que são filmes que foram selecionados de acordo com o grau de apreciação que tenho por eles. No mais agradeço muito a sua atenção! Valeu!

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