segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Melancholia


Premiado no Festival de Cannes, em 2011, com a Palma de ouro de melhor atriz para Kirsten Dunst, de "Tudo acontece em Elizabethtown", além de melhor filme, fotografia, cenografia e direção para o inconfundível Lars Von Trier, no European Film Awards, Melancholia é uma obra-prima. Von Trier foi responsável pela instituição de um manifesto estético na Dinamarca, o DOGMA 95. A década de 90 foi marcada por grandes inovações tecnológicas no cinema e a manipulação digital se tornou uma delas. A substituição da película pelo embrionário vídeo digital, tanto na captação quanto na exibição, foi um dos pretextos que culminariam na sua criação. O DOGMA 95 estipulava regras para eliminar os artificialismos das filmagens como a proibição de trilha sonora e iluminação artificial. Com o passar do tempo, Trier se mostrou mais um provocador do que um seguidor disciplinado do movimento. A realidade é que o movimento murchou com o grande advento tecnológico o qual somos capazes de presenciar nos dias atuais. Isso se aplica a Melancholia, um filme muito bem elaborado, cuja fotografia e toda a parafernália que conduz a manipulação digital estão presentes, o que o torna mais rico, porque através desses recursos, o valor sinsetésico dessa obra não é sentido em vão. O filme se divide em duas partes, duas irmãs que se multifacetam e se divergem: Justine, representada por Kirsten Dunst, é a irmã desajustada, instável, insurgente. Ao mesmo tempo em que se mostra insatisfeita, traz consigo uma carga de pessimismo, algo que está inclusive presente no início do filme, na sua própria cerimônia de casamento. A família presente, amigos, pessoas importantes vinculadas ao trabalho  não são garantia de que tudo correria bem. O que, aparentemente, gira em torno de um evento desejado e esperado por ambas as partes, surpreendentemente é virado do avesso através das atitudes inusitadas de Justine, que, a cada segundo, mostra-se confusa e infeliz com o seu ingresso ao matrimônio. A segunda parte é dedicada a Claire, representada pela francesa Charlotte Gainsbourg, premiada em 2009 como melhor atriz em Cannes, pelo filme dirigido também por Lars Von Trier, O Anticristo. Claire é a irmã racional, adaptada às convenções, esposa e mãe. Torna-se o apoio pelo qual Justine busca ao entrar numa profunda depressão. As duas são o reflexo da ambiguidade da espécie humana, uma dualidade baseada na irmandade fadada ao pessimismo e ao fim. Todos os valores retratados aqui através das relações humanas, insituições como o casamento e a família são analisados sob uma perspectiva niilista, inclusive o destino do Planeta Terra. O planeta azul, o Melancholia, está prestes a fazer uma passagem e corre o grande risco de se chocar com a Terra.
Lars Von Trier conseguiu reunir arte, boa música (Nona sinfonia de Bethoven), estonteante fotografia e roteiro eletrizante. Impressionante a forma como se propõe a falar sobre o fim, quando o comum e o natural é a excitação do novo, o idealismo desenfreado do que está por vir. Saí do cinema com uma sensação estranha, não escapou o sentimento de que somos um nada e um tudo diante do mundo. É o que Trier sabe fazer de melhor! Excelente obra que merecidamente deveria estar presente na indicação dos Oscars 2012, que ocorrerá no próximo dia 26 de fevereiro. Mas infelizmente ficou de fora. Confiram a trilha sonora! Até!






4 comentários:

  1. Mirelle, estava esperando uma boa intervenção, como a sua, para assistir o filme! Bjos!

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  2. Que bom, Natércia, fico feliz por isso! Vc não se arrependerá! Beijo!

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  3. Muito bom! Excelente intervenção, e dei umas olhadas em outros filmes postados aqui antes, e estou descobrindo um novo grau de filmes, com uma visão mais ampla graças ao seus conselhos dados em sala de aula(!), obrigado, e to gostando muito do Blog. E dos filmes indicados aqui também.

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  4. Obrigada, Hidelbrando! Fico muito feliz em fazer parte dessa descoberta! Fique à vontade, comente e seja sempre bem-vindo para dar sugestões e opiniões! Obrigada!

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